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Olimpíada: um atleta recebe dinheiro por disputar os Jogos? Entenda a premiação

Os Jogos Olímpicos são o auge da carreira de muitos atletas, e a oportunidade de se apresentar no palco global pode eternizar seus nomes na história. Em jogo, estão as medalhas olímpicas bem como o reconhecimento que as acompanha.

Mas, ao contrário de muitos outros esportes profissionais, a recompensa financeira nem sempre era um prêmio concedido aos atletas olímpicos no passado.

Aqui está tudo o que você precisa saber sobre os atletas olímpicos e a grana que eles podem receber.

Primeiras medalhas

As medalhas de ouro, prata e bronze nem sempre foram padronizadas. Nos primeiros Jogos Olímpicos modernos, em 1896, os vencedores recebiam um ramo de oliveira e uma medalha de prata, um prêmio que foi dado pela primeira vez ao campeão do salto triplo James B. Connolly.

Inicialmente, as medalhas foram projetadas para serem presas ao peito dos atletas, mas o design mudou em 1960, permitindo que a medalha fosse pendurada no pescoço do vencedor.

Foi apenas nos Jogos Olímpicos de 1904, em St. Louis, que as agora tradicionais medalhas foram introduzidas.

Design de 2024

Nos Jogos de 2024, em Paris, as medalhas conquistadas pelos atletas virão, cada uma, com um pedaço original da Torre Eiffel, o marco do século 19 que se tornou tão sinônimo da capital francesa.

A grife Louis Vuitton fez baús feitos sob medida para o transporte das medalhas da Olimpíada de Paris / Reprodução / Louis Vuitton

Embora as medalhas sejam altamente cobiçadas, ganhá-las não significa receber bônus financeiro diretamente do Comitê Olímpico Internacional (COI), organizador dos Jogos.

Isso porque a Olimpíada começou como uma competição amadora destinada a promover o sucesso atlético e o espírito esportivo. Em vez disso, o COI distribui seu dinheiro amplamente para ajudar no desenvolvimento do esporte e dos atletas.

“O COI redistribui 90% de toda a sua renda para os Comitês Olímpicos Nacionais (CONs) e Federações Internacionais (FIs)”, disse o COI, em nota enviada à CNN.

US$ 4,2 milhões por dia

“Isso significa que, todos os dias, o equivalente a US$ 4,2 milhões vai para ajudar atletas e organizações esportivas em todos os níveis ao redor do mundo. Cabe a cada FI e CON determinar como melhor servir seus atletas e o desenvolvimento global do seu esporte”.

E, de acordo com Mark Conrad, professor de direito e ética na Fordham University Gabelli School of Business, esse modelo não deve mudar tão cedo.

“Não vejo o dia em que todos os atletas olímpicos serão pagos pelo COI, porque o COI nunca os considerou uma força de trabalho — o que, de certa forma, eles são, porque estão fornecendo entretenimento para um público de massa, além de querer competir e ganhar medalhas”, disse Conrad à CNN.

Rebeca Andrade posa com as duas medalhas que conquistou nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020
Rebeca Andrade posa com as duas medalhas que conquistou nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 / Laurence Griffiths/Getty Images

No entanto, existem métodos mais diretos para os atletas ganharem dinheiro através de seu sucesso nos Jogos.

Prêmio em dinheiro por medalha de ouro: novidade de Paris

Embora o COI não ofereça prêmios em dinheiro diretamente pelas medalhas, a entidade que governa o atletismo — o esporte mais badalados das Olimpíadas — fará isso após um anúncio surpresa em abril.

A World Athletics (WA) revelou que os medalhistas de ouro em eventos de atletismo em Paris 2024 receberão prêmios em dinheiro, tornando-se a primeira entidade esportiva internacional a fazer isso.

Um prêmio de US$ 2,4 milhões (R$ 13 milhões) foi reservado pela WA da alocação de receita do COI que recebe a cada quatro anos para recompensar os atletas.

US$ 50 mil por ouro

Aqueles que ganharem ouro em cada um dos 48 eventos de atletismo em Paris receberão US$ 50 mil (cerca de R$ 270 mil), e as equipes de revezamento receberão o mesmo valor para compartilhar entre os atletas.

Embora o prêmio em dinheiro seja apenas para os medalhistas de ouro, a WA disse que está comprometida em estender a iniciativa de bônus para medalhistas olímpicos de prata e bronze nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028.

Dinheiro “minimiza valores do Olimpismo”

O anúncio recebeu uma resposta mista. A Associação das Federações Internacionais de Esportes Olímpicos de Verão disse que tinha “várias preocupações” sobre a medida, argumentando que a introdução do prêmio em dinheiro “minimiza os valores do Olimpismo e a exclusividade dos Jogos”.

“Não se pode e não se deve colocar um preço em uma medalha de ouro olímpica e, em muitos casos, os medalhistas olímpicos beneficiam-se indiretamente de endossos comerciais”, disse em nota. “Isso desconsidera os atletas menos privilegiados que estão nas posições finais”.

Hebert Sousa garantiu, ao menos, a medalha de bronze para o boxe brasileiro
Brasileiro Hebert Sousa ganhou medalha de bronze no boxe nas Olimpíadas de 2020

Boxe também vai pagar vencedores

A Associação Internacional de Boxe (IBA, na sigla original) também anunciou em maio que distribuirá recompensas financeiras totalizando mais de US$ 3,1 milhões nas competições de boxe.

Os medalhistas de ouro receberão US$ 100 mil RR$ 542 mil) da IBA, com o boxeador recebendo metade, enquanto o respectivo comitê olímpico e o treinador do atleta recebendo US$ 25 mil cada.

Os medalhistas de prata receberão US$ 50 mil, com o atleta recebendo US$ 25 mil e o restante dividido igualmente entre o treinador e o CON. Para uma medalha de bronze, a AIB distribuirá US$ 25 mil, incluindo US$ 12.500 para o atleta.

“Nossos atletas e seus esforços devem ser apreciados”, disse o presidente da associação, Umar Kremlev, em nota. “A IBA oferece oportunidades e investe consideravelmente em nossos boxeadores, eles permanecem como o ponto focal, e continuaremos a apoiá-los em todos os níveis”.

Debate sobre pagamentos aos atletas

Os atletas também podem ganhar prêmios em dinheiro por outros meios. Em uma coletiva de imprensa, em maio, o presidente do COI, Thomas Bach, explicou que é “prática comum” os atletas receberem prêmios em dinheiro de CONs, órgãos governamentais ou por meio de patrocinadores por seus feitos nos Jogos Olímpicos.

Bach lembrou suas próprias memórias desse processo, recordando como ele e seus colegas de equipe receberam prêmios em dinheiro do CON alemão pela medalha de ouro na esgrima que ganharam nos Jogos de 1976.

EUA fez a “Operação Ouro” em Pequim 2022

Nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em Pequim, os atletas dos EUA receberam um total de US$ 5,6 milhões em pagamentos por performances de medalhas através da “Operação Ouro”.

Por exemplo, o Comitê Olímpico e Paraolímpico dos EUA paga aos atletas vencedores de medalhas de ouro US$ 37.500, US$ 22.500 por prata e US$ 15 mil por bronze.

Com o COI focado na distribuição de seus fundos para promover o desenvolvimento do esporte ao redor do mundo, Bach disse que cabe aos CONs e FIs — que ele afirmou serem os principais beneficiários do “sucesso comercial dos Jogos” — escolher como incentivar seus atletas e fornecer as melhores condições para suas delegações se apresentarem.

Presidente do COI Thomas Bach em Lausanne
Presidente do COI Thomas Bach em Lausanne / 19/3/2024 REUTERS/Denis Balibouse

“Prática comum há décadas”

“Os CONs, eles devem usar esse dinheiro para fornecer aos Jogos Olímpicos os melhores atletas em sua delegação nacional e apoiá-los para que possam competir no mais alto nível possível nos Jogos”, disse Bach.

“E eles fazem isso e então muitos deles recompensam os atletas com prêmios em dinheiro por ganhar medalhas ou diplomas ou o que for. E isso está absolutamente em linha e é prática comum há décadas”, explicou.

Bach continuou: “O papel das FIs, de acordo com esse entendimento comum, é que elas devem fazer todo o esforço para tentar pelo menos fechar a lacuna entre os atletas vindos de países ou CONs privilegiados e de países ou CONs menos privilegiados”.

“Eles são, dessa forma, parte do esforço de solidariedade do COI para fazer de tudo para criar, da melhor maneira possível, condições iguais para todos os atletas ao redor do mundo e ajudá-los a se desenvolver e a ter bons treinadores, boas condições de treinamento”, disse.

Atletas menos conhecidos tiram dinheiro do próprio bolso

Mas, segundo Conrad, o processo de receber dinheiro através de patrocínios é muito favorável aos atletas superestrelas, com muitos dos participantes olímpicos menos conhecidos sendo obrigados a gastar seu próprio dinheiro para financiar seu caminho.

“Conseguir esses patrocínios não é fácil. Quero dizer, você realmente precisa estar no nível de Simone Biles ou Sha’Carri Richardson para conseguir dinheiro significativo de patrocínio”, explicou Conrad.

Por exemplo, Biles ganha US$ 7 milhões em patrocínios, segundo a Forbes.

“O que às vezes as empresas farão, e isso realmente depende do nível em que se está, é que o acordo de patrocínio será de equipamento gratuito e alguns eventos promocionais, mas não muito dinheiro. E as chances são de que serão os campeões olímpicos que então conseguirão um patrocínio por muito dinheiro”.

*Com informações de George Ramsay, da CNN.

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