Gordon e Carlos compartilham um apelido que se tornou um monônimo. Isso não impede as semelhanças. Ambos filhos de outubro, eles cresceram com duas grandes paixões: futebol e música. Gordon sonhava em jogar na frente do Newcastle United. Carlos fantasiava em se tornar um pagodeiro, tocando o subgênero do samba que envolve tocar banjo, cavaquinho e pandeiro. Um se tornou o vocalista do time nacional de maior sucesso de um esporte; o outro da maior banda do planeta.
Um Sting agora espera imitar o outro. Gordon, que ganhou seu apelido porque costumava usar um suéter preto e amarelo nos shows, já havia desfrutado de enorme sucesso com o The Police, mas seu auge veio no início dos seus 30 anos. A Synchronicity Tour, durante a qual ele emocionou multidões em três continentes com sucessos como Don’t Stand So Close To Me , Every Breath You Take , Every Little Thing She Does Is Magic , Message in a Bottle , Roxanne e Walking On The Moon , elevou a popularidade de Sting a alturas estratosféricas.
“Percebi que não dá para ficar melhor do que isso, não dá para escalar uma montanha mais alta do que isso”, disse ele. “Este é o Everest. É isso, é aqui que essa coisa para, agora mesmo.” Ferrão – ‘picada’ em português – herdou o apelido do pai, que assediava os defensores como uma abelha zumbindo enquanto ostentava as listras azuis, pretas e brancas do Grêmio.
O nativo de Chapecó, aos 33 anos, entrará em sua próxima turnê tendo já devorado muito do mel mais doce do seu esporte. Ele é o melhor jogador três vezes, encerrou recentemente um período de 10 anos no Barcelona decorado com 23 títulos e conquistou a Chuteira de Ouro da adidas em sua primeira Copa do Mundo de Futsal da FIFA™ em 2021. Agora, como Sting fez no Shea Stadium em Nova York, Ferrão quer seu Everest na Humo Arena em Tashkent em 6 de outubro. O pivô, de fato, quer guiar sua colônia para o néctar que eles não provam há 12 anos.
FIFA: O Brasil não ganhou o título, mas você aproveitou alguns momentos memoráveis, terminou com a Chuteira de Ouro. Como foi sua primeira experiência na Copa do Mundo?
Ferrao: Primeiramente, foi uma sensação incrível poder jogar na Copa do Mundo pela primeira vez. Individualmente, foi um grande torneio para mim. Fiquei muito feliz em terminar como o artilheiro, considerando quantos grandes jogadores estavam lá. Mas o objetivo principal era o título. Fui para casa pensando no que poderia ter sido.
Você só voltou à quadra em abril, depois de jogar por apenas 18 meses. Quão difícil foi esse período na lateral do campo?
Foi difícil, mas nunca deixei que isso me parasse. Quando rompi meu tendão de Aquiles, faltava cerca de um ano para a Copa do Mundo. Fiquei fora por cerca de oito meses. Então, depois que voltei, perdi alguns jogos devido a outra lesão no final da temporada. Graças a Deus agora estou bem. Estou me preparando para chegar à Copa do Mundo na melhor forma possível. Na vida você cai, levanta a cabeça e olha para o próximo desafio. Seria uma história muito bonita para mim voltar de uma lesão como essa e me tornar um campeão mundial. Vou dar tudo de mim.
Houve algum momento em que você pensou que não conseguiria?
Às vezes, eu estava um pouco assustado. Mas eu sabia que dependia de mim. Eu estava totalmente dedicado a voltar, a fazer o meu melhor nos treinos, a me tornar o Ferrão que eu era antes das lesões.
Havia muita incerteza sobre se, devido às lesões, você faria parte da seleção brasileira para o Uzbequistão 2024. Como você se sentiu quando foi convocada?
O Marquinhos sempre demonstrou muita fé em mim. Sempre fui muito grato por isso. Eu estava em uma lista de 20 e poucos jogadores, mas só descobri que estava na lista no dia em que foi anunciado. Fiquei extremamente feliz. Também fiquei super satisfeito que, mais uma vez, o Marquinhos acreditou em mim. Agora tenho que mostrar a ele nos treinos e jogos que ele tomou a decisão certa.
Quão feliz você ficou ao ver seu amigo e ex-companheiro de equipe Sergio Lozano se recuperar de uma quarta cirurgia no ligamento cruzado anterior do joelho direito e fazer parte da seleção espanhola?
Muito feliz. Ele é um exemplo de inspiração. Eu tive algumas lesões sérias, mas Lozano teve muito mais. Passar por tudo o que ele passou e chegar a uma Copa do Mundo mostra quanta perseverança e dedicação ele tem. A maneira como ele foi derrubado e voltou ao topo, uma e outra vez, faz dele um exemplo para todos no futsal. Ele merece estar nesta Copa do Mundo, e isso é ótimo para a Espanha porque ele é um jogador excelente.
Esta será sua última Copa do Mundo?
Para um jogador, muito depende de lesões. Na próxima Copa do Mundo, terei 37 anos. É uma idade em que você ainda pode atuar. Ainda não decidi de uma forma ou de outra. Representar a seleção brasileira é a maior honra. Se eu ainda puder fazer isso bem aos 37, farei o meu melhor para ir à Copa do Mundo. Se eu sentir que não estou mais no meu melhor, vou me afastar e dar uma chance à geração mais jovem.
O que você acha do futsal que Pito jogou nos últimos dois anos?
Ele tem sido um jogador extraordinário. Ele faz a diferença. Ele tem jogado de forma intensa nos últimos dois anos e teve alguns problemas de lesão, mas graças a Deus ele está pronto para ajudar a Seleção na Copa do Mundo. Ele é um jogador incrível.
Excluindo você e Pito, quem você classifica como o melhor pivô do mundo hoje?
Acho que é alguém muito parecido comigo: Zicky Te. Ele já era um excelente jogador alguns anos atrás, mas está ainda melhor agora. Ele deslumbrou nos últimos dois anos.
Quem você considera o melhor goleiro do mundo?
Vou citar dois dos quais sou muito fã: Guitta e Higuita. Acho que eles estão em um nível diferente dos demais. Ambos são muito completos, excelentes com os pés e em fazer defesas.
Você vai jogar ao lado de Higuita na próxima temporada no FC Semey no Cazaquistão. O que você acha da seleção nacional deles?
Eles são muito completos, um grande time. Nós os enfrentamos na última Copa do Mundo. Sofremos muito para terminar em terceiro lugar. O Cazaquistão melhorou desde então, principalmente porque os jogadores cazaques cresceram muito. Eles têm dois ou três no FC Semey que são grandes jogadores. Os brasileiros continuam ótimos e têm muita experiência. Douglas e Higuita são jogadores excelentes e têm muita experiência.
Dez anos, 318 gols, 23 títulos… como você descreveria sua passagem pelo Barcelona?
Mágico. Acho que todo jogador sonha em jogar em um clube como o Barça . Eu fiz isso por 10 anos e meu tempo lá foi incrível. Nem sempre foi um mar de rosas. No começo, perdemos muitos jogos, sofremos muito. Mas nos construímos e seguimos para ter grande sucesso. Quando fui fazer minha entrevista de despedida no clube, eles tinham os 23 troféus alinhados. Lembro-me de vê-los e pensar ‘uau’. Minha história no Barça foi realmente linda.
Quão confiante você está de que o Brasil levantará o troféu?
Estou muito confiante. Temos um ótimo elenco. Na preparação para a última Copa do Mundo, estávamos distraídos com coisas extra-quadra. Desta vez, não temos distrações. Os preparativos estão indo muito bem. Cada jogador, cada membro da comissão técnica, está totalmente focado em nós retornarmos ao topo do pódio. Não podemos deixar esse título escapar de nós novamente.
