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técnico da seleção brasileira comenta sobre o hexa na Copa do Mundo – LNF

Marquinhos Xavier segura a taça e está acompanhado da comissão técnica. | Foto: Leto RibasC

Marquinhos Xavier, 50 anos, será sempre lembrado como o técnico que comandou a seleção brasileira de futsal na conquista do hexacampeonato. Mais do que isso. Será o treinador que ajudou a acabar com um jejum de 12 anos sem títulos mundiais na modalidade. No primeiro ciclo, entre 2017 e 2021, um terceiro lugar. No segundo período, após uma fase de renovação e com ensinamentos, o tão sonhado título no Uzbequistão.

O catarinense de Lages e cidadão barbosense, título conferido pela Câmara de Vereadores de Carlos Barbosa, está na história do futsal brasileiro e mundial. Em entrevista ao Show dos Esportes, na Rádio Gaúcha Serra, Marquinhos comentou sobre o período de renovação após a Copa do Mundo disputada em 2021 e os aprendizados que teve, relembrou a promessa que fez ao ídolo Fernando Ferretti, que faleceu ano passado, e o sonho de ver o futsal no programa olímpico. Confira a entrevista com Marquinhos Xavier:

Fase de renovação

Marquinhos: Importante a gente falar que esse título acontece depois de sete anos de trabalho. Eu acho que o ponto mais complicado, sem dúvida nenhuma, foi a fase inicial, de estruturação. A gente pegou a seleção em 2017 com muitos problemas, com muitas dificuldades, inclusive de estrutura, de investimento. A seleção de 2016 era excelente e com grandes campeões, mas a renovação tinha que ser feita. Então, esse início da fase de renovação, de identificar um perfil, foi algo que custou bastante.

Ensinamentos do primeiro ciclo (2017 a 2021)

— Um diagnóstico muito preciso de que nós não somos mais um país onde individualmente se possa resolver os problemas. Em 2012, quando o Brasil obteve o último título mundial, encerrou-se uma geração de muitos craques, que tinham esse potencial de definir um jogo sozinho. Pelo talento, pela supremacia que o futsal brasileiro tinha sobre todas as outras seleções, a exceção das tradicionais. Então, essa mudança de comportamento, adotando um comportamento muito mais coletivo, foi o grande diferencial. MARQUINHOS XAVIER

Leto Ribas
Marquinhos Xavier no comando da seleção na Copa do Mundo. .| Foto: Leto RibasC

Jogo mais coletivo

— Em 2021, a gente vai ao pódio, fica com a terceira colocação. Para muitos, o resultado era ruim. Pra mim, de nenhuma forma. Nós não tivemos possibilidades de estrutura pra jogar, enfrentar adversários fortes, a gente não conseguia sair do Brasil ou tinha dificuldade pra trazer alguém pra dentro do país. Então, aquela medalha foi especial, mas ainda ali a gente tinha alguns resquícios da tentativa de ser individual. O Brasil sempre foi reconhecido pelo talento individual, mas a gente plantou lá atrás uma semente. A compreensão dos atletas fez com que a seleção vencesse o Mundial de forma muito coletiva. A gente dividiu muitas responsabilidades ali e perdemos ao longo da competição atletas importantes e o coletivo sustentou tudo isso.

“Panela” na seleção?

— É uma pena que hoje as redes sociais ofereçam um espaço pra muita gente ignorante formar opinião e também discutir temas que, às vezes, nem tem competência pra discutir. No esporte, qualquer um se acha no direito de fazer determinados comentários. Essa questão de avaliar as pessoas que são da tua confiança deveria ser um tema tão normal e natural. Afinal de contas, quando a gente contrata alguém pra nossa empresa, vamos buscar pessoas de confiança. Eu ouvi e li várias vezes de que era a minha “panela”, porque eu tinha escolhido atletas que já tinham trabalhado comigo. É óbvio que se trabalhou comigo, eu conheço bem e sei o que ele pode entregar nos momentos de dificuldade.

Maior ídolo

— Sem dúvida nenhuma, o professor Fernando Ferretti. Esse foi meu mestre. Esteve comigo na seleção durante muito tempo, uma pessoa que eu tenho verdadeiro carinho e admiração. Ele nos deixou no ano passado, mas segue aqui comigo me ajudando.  Fiz uma homenagem merecida, porque eu prometi para ele. Estive muito próximo dele nos últimos dias da vida dele. A gente tinha uma relação muito próxima e eu disse para ele que esse título ia ser dele.

Um sonho

—  Ganhar o título mundial estava na primeira prateleira. Realmente era um sonho especial. Depois dessa concretização, acho que eu passo a sonhar em ver o nosso esporte numa Olimpíada, num programa olímpico.  Eu acho que o esporte merece isso pela dinâmica, pela velocidade, pela imprevisibilidade. Merecia realmente um programa olímpico. Vamos aguardar, trabalhar também e ajudar no que for preciso pra isso. 

Futsal como esporte olímpico

— Eu acho que (falta) o empenho, principalmente das instituições, uma organização. Eu protagonizei nesse Mundial um aceno da Fifa, em querer ajudar também nesse movimento. Acho que a Fifa tem interesse também de oferecer o futsal e o futebol de areia pro programa olímpico. Então, eu acredito que ambos podem ser ajudados nesse movimento.

Hobby

— Eu vivo muito do esporte, mas eu tenho uma empresa, eu acabo tendo bastante demanda de trabalho. Eu coordeno um curso de pós-graduação que eu idealizei. A gente já está na oitava turma. Recentemente também me ocupei muito, porque eu acabei de terminar agora em julho um doutorado na UFRGS. Então, eu fiz mestrado e doutorado durante esse período de seleção. Escrever é uma das minhas grandes terapias. Eu gosto muito de escrever e quando estou no escritório ou em casa, estou sempre anotando alguma coisa. Os meus livros são muito desses insights que eu acabo tendo. Então o meu hobby preferido é escrever, sentar e estar calmo ali, podendo produzir alguma coisa.

Arrependimento

— Talvez, eu poderia ter arriscado mais em alguns momentos. Eu sempre fui um treinador e uma pessoa muito conservadora no sentido de ter muito os pés no chão, de ficar esperando muito que as coisas me deem pistas. Talvez, se eu tivesse arriscado mais em alguns momentos. Talvez, eu estou sendo até injusto com a minha vida, com a minha carreira, porque eu conquistei muitos títulos importantes, mas esse conservadorismo, essa tranquilidade, pode ter me tirado algumas coisas do caminho. Não diria um arrependimento, mas eu acho que eu poderia ter arriscado mais em algumas situações.

Tranquilidade

— Embora não pareça, eu sou uma pessoa muito tranquila. Eu sou uma pessoa muito família, gosto muito do ambiente familiar, gosto muito de estar com os meus amigos. Não sou tão mal humorado como as pessoas imaginam. Às vezes, eu estou muito tenso, eu estou com uma cara meio fechada, mas eu gosto muito de ajudar as pessoas, então estar com as pessoas para mim é algo muito bacana. 

Leto Ribas
Técnico Marquinhos Xavier com a taça de campeão mundial com a seleção brasileira. | Foto: Leto RibasC

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