Por Alexandre Araújo | UOL
• Rio de Janeiro | RJ
O muro que beira a linha lateral é o mesmo das casas, e, da janela, alguns moradores assistem às crianças se divertindo com dribles e gols. O local ganhou novas cores e infraestrutura, mas os pés descalços responsáveis por conduzir a bola foram mantidos. Foi esse o cenário que a seleção brasileira de futsal encontrou ao visitar a reinauguração de uma quadra na Tavares Bastos, comunidade no Catete, zona sul do Rio de Janeiro.
O evento mexeu de uma maneira especial com João Victor Alves Sena, conhecido como Neguinho. Nascido em Miliunas, em São Paulo, o fixo do Brasil, na infância, viveu realidade parecida à daqueles jovens.
“Assim que cheguei, lembrei da minha infância. Voltei ao passado. Acredito que passei o que essas crianças passam. Querendo ou não, ser de comunidade traz obstáculos, fica mais distante [das oportunidades]. Acredito que esse evento foi importante para elas verem que os sonhos são possíveis” disse Neguinho
“A quadra que eu jogava era idêntica. Eu jogava descalço também, debaixo do sol, às vezes valendo um refrigerante (risos). Abria até o tampão do dedo, mas o que importava era jogar futebol”, completou.
Neguinho começou nas ruas e, depois, passou às quadras da escola pública em que estudava. Aos 14 anos, foi observado por um professor de educação física e, certo dia, embarcou com mais alguns amigos em um “corsinha” para fazer um teste.
“Meu professor conhecia um rapaz do Clube Esportivo da Penha e nos chamou para um teste. Eu e mais uns quatro, cinco amigos fomos em um corsinha pequeno. Fomos lá para um teste. O time deles era bem superior, mas, logo que começou, fui bem e fiz dois. Me colocaram no time deles e começou tudo.”
O jogador foi aprovado. Ele tinha o apoio da mãe, que trabalhava como doméstica e pagava as passagens para ir aos treinos, mas, com o tempo, passou a ter ajuda de custo e cesta básica. “Ajudou bastante naquela época. Hoje, graças a Deus, vivo só do futsal.”
De lá para cá, Neguinho defendeu clubes como Corinthians e Atlântico e, ao longo deste período, chegou a se aventurar no campo, mas voltou à modalidade de origem. Atualmente, está no Palma, da Espanha.
Agora, integra o grupo que vai defender o Brasil na Copa do Mundo, em busca do hexa. A competição vai acontecer entre 14 de setembro e 6 de outubro, no Uzbequistão. O Brasil está no Grupo B, com Cuba, Croácia e Tailândia.
“Sempre foi um sonho e agora vou poder realizar. Com Deus à frente de tudo e humildade, consegui. Fico muito feliz e, a cada convocação, fico honrado e tento dar o melhor. A expectativa é a melhor, estamos fazendo uma boa preparação.”
Como foi o evento
A reinauguração da quadra foi uma parceria da CBF com a EstrelaBet. O evento teve “treino” dos jogadores com as crianças, uma “pelada” de todos contra todos e até uma apresentação de passinho de funk.